Este é o pior cenário de seca vivenciado pela Barragem Santa Bárbara em 52 anos
08/05/2020 | 03:05:37
Causando transtornos e prejuízos em toda a Zona Sul do Estado, a estiagem em Pelotas é a principal responsável pelos problemas de falta d’água registrados em regiões abastecidas pela Barragem Santa Bárbara. Nesta sexta-feira (8), o manancial atingiu o recorde de 3 metros e 78 centímetros abaixo do nível ideal de captação, superando a marca histórica de 2 metros e 98 centímetros notificada em anos anteriores. Este é pior cenário de seca vivenciado pela Barragem desde sua construção, há 52 anos, alerta o diretor-presidente do Sanep, Alexandre Garcia.
“Hoje, o índice de déficit pluviométrico é de mil milímetros na barragem. De novembro até agora, temos 254 milímetros de chuva acumulada, quando o esperado para este período era em torno de 1,2 mil milímetros”, justifica Garcia.
Além de afetar a quantidade de água, a falta de chuva também traz consequências ao seu tratamento, já que, agora, é preciso buscá-la no fundo da Barragem e isso reflete diretamente na sua qualidade. Se, antes, a água bruta captada tinha índice de coloração (propriedade relacionada à transparência) de 160uH, nesta terça (5) chegou-se a constatar índice de 2.000uH.
O diretor-presidente explica que, em função disso, é preciso diminuir a velocidade do tratamento, sob pena de não se conseguir disponibilizar água potável à população.
“Estamos fazendo todo o possível para cumprir a nossa missão de abastecer o município. Iniciamos operação para incluir novo produto químico no tratamento da água, aumentamos o floculante em mais de 80% do seu uso, lavamos os decantadores diariamente, pela quantidade de barro que sai durante a captação, quando antes era possível realizar o processo a cada 20 dias”, exemplifica.
A autarquia também executa obras emergenciais para ampliar a capacidade de obtenção e condução de água potável aos moradores. Na zona rural, o Sanep empenha-se para levá-la ao maior número de famílias possíveis. Normalmente, um caminhão-pipa dava conta de atender 90 famílias da colônia. Agora, com poços artesianos, arroios e córregos secos, a autarquia abastece 498 casas com cinco caminhões – um aumento de 450%.
Está vigente, desde o final de fevereiro, o decreto que restringe o uso de água em Pelotas, proibindo que moradores lavem carros, calçadas e pátios, por exemplo. Na contramão da força-tarefa para economizar, diversas denúncias ainda chegam ao Sanep provando que muitas pessoas ainda não compreenderam a gravidade da situação e a importância de consumir conscientemente a água, aponta Garcia. De acordo com ele, tão imprescindível quanto a chuva, nos próximos dias, é a colaboração dos pelotenses para não desperdiçarem água neste momento.
Sobre a previsão de um racionamento na cidade – a exemplo do que acontece em outras cidades do Estado, como Bagé e Hulha Negra –, Garcia pondera que ele ainda não está sendo planejado. “Ainda temos água, mas dependemos de várias situações, como a condição de tratamento e a direção do vento. Nosso problema não é quantidade, mas a condição de tratar a água bruta”, argumenta. Com a mudança do vento, a sujeira que, atualmente, é empurrada para dentro da zona de captação, vai para outro ponto da Barragem, podendo favorecer o processo.
Na noite de terça (5), foi paralisado o bombeamento na Estação de Tratamento, já que a água bruta, chegando com baixa qualidade, não passava corretamente pela floculação, isto é, permanecia a forte coloração. Para não distribuí-la desta maneira às casas, o Sanep retomou o trabalho no início da manhã de quarta (6) e, desde então, não parou mais. Mas, para garantir o tratamento adequado e a potabilidade da água nas residências da população, é preciso reduzir a capacidade e o fluxo de tratamento, o que causa dificuldades no abastecimento, sobretudo, no período de maior consumo: entre 11h e 14h.
São afetadas pela falta d’água as regiões abastecidas pela Barragem, como Fragata, Centro, Balsa, Porto, Navegantes e Três Vendas. Como o manancial também abastece parte do reservatório R8 e ele, no momento, envia água à praia do Laranjal (devido a dificuldades na captação do arroio Pelotas, em função da salinidade), bairros como Areal e Laranjal também são atingidos.
Uma das opções estudadas anteriormente pelo Sanep seria uma possível transposição do Arroio Pelotas à Barragem, como forma de repor o abastecimento. O diretor-presidente garante, no entanto, que o investimento não se justifica. “Buscamos essa possibilidade, mas no momento não justificaria o investimento, pois a qualidade da água bruta é inferior a que estamos captando na Barragem e teríamos ainda mais dificuldade para tratar”, afirma.
Uma transposição do canal São Gonçalo também seria inviável neste momento, segundo o gestor, pois seria necessário captar água em uma área a alguns quilômetros após a eclusa, devido à salinidade. “Precisaria de uma obra de grande porte, que levaria meses de execução. Pelotas vai captar a água do canal São Gonçalo a partir da conclusão da Estação de Tratamento que está em construção, que terá capacidade inicial de tratar 500 litros de água por segundo”, frisa Garcia.